patrocinadores

A história dos cinemas de Atibaia

Pelos olhos dos Alvim

Prefere ouvir a história? Então reproduza o áudio abaixo!

 

Não se pode falar do cinema em Atibaia, antes de citar o importante historiador João Batista Conti, que empresta o nome ao Museu Municipal e que tão bem descreveu os fatos daquele tempo:

O primeiro cinema fundado em Atibaia foi o Popular que funcionava numa parte do atual mercado municipal adaptado para esse fim. Depois veio o Pavilhão Recreio Cinema, construído por Deoclides Freire e inaugurado a 24 de dezembro de 1922. Mais tarde passou a chamar-se Cine Recreio e depois Cine República. 

Houve ainda o Palace Teatro, de propriedade de Hilário de Vasconcelos, situado na rua José Lucas e inaugurado em 1913. Passou-se a chamar Nordisk Cinema

Em 24 de janeiro de 1926 inaugurou-se o Cine Trianon de propriedade dos irmãos Titarelli. Um belo cinema situado à rua José Pires. 

Em 1950 Renato Facio construiu um cinema de alto padrão, o Cine Itá que depois foi vendido para Juvenal Alvim Neto que instalou todos os equipamentos modernos, tais como tela panorâmica e Cinemascope. 

O Cine Paraíso de propriedade de Edmundo Zanoni foi fundado em 24 de junho de 1964 e também em 1964 foi construído o Cine Atibaia por Juvenal Alvim Neto.”

Passado o tempo, em 21 de julho de 1925, o Major Juvenal Alvim comprou o Cine Central, da família Titarelli, e decidiu mudar o nome do prédio para Cine República. Durante mais de seis meses o prédio foi reformado, incluindo a instalação de novas poltronas e cadeirasA inauguração oficial aconteceu no dia 14 de fevereiro de 1926, quando, em duas sessões, foi apresentado o filme “A Esposa Martyr” tendo como protagonistas Rodolpho Valentino e Gloria Swanson. Naquele tempo, o cinema era mudo, mas, com a inestimável ajuda e talento da família Chiochetti, ganhou vida através da música e da parceria na gestão e administração do negócio.

A história dos cinemas de Atibaia - 01

Com o falecimento do Major Juvenal Alvim, em 1936, houve a partilha de seus bens, e um dos lotes incluía o Cine República, outro o loteamento onde se situa hoje o bairro de Alvinópolis. Esse loteamento ficou com seu cunhado Clóvis Soares, cabendo a Zezico Alvim, a seu pedido a posse do cinema.

O Cine República seguiu aberto e funcionando até o final da década de 1950, quando, durante uma sessão, uma parede desabou sobre o auditório, motivo que causou grande consternação ao proprietário e o cinema fechou, sendo demolido em 1962.

No início da década de 1950, Renato Facio construiu um novo prédio, onde se instalou o Cine Itá, hoje Centro Cultural. O prédio foi vendido em 07 de abril de 1954 para Juvenal Alvim Neto e sua irmã, Wanda Alvim Fazio, que modernizaram os equipamentos e seguiram no viés cultural da família, mantendo o cinema ativo e atualizado.

A história dos cinemas de Atibaia - 02

Juvenal sempre foi muito ligado às artes, em especial o cinema, interesse esse, que mais cresceu devido à sua estreita amizade com André Carneiro (que dá nome ao Centro Cultural). Tão intensa era a convivência e o apreço, que Juvenal foi padrinho de batismo dos dois filhos do artista, renomado no Brasil e em outros países, além de atuar em um dos seus filmes.

A história dos cinemas de Atibaia - 03

Alguns anos depois, Juvenal Alvim Neto, então proprietário da empresa de ônibus de Atibaia, hoje Viação Atibaia – São Paulo, vendeu a mesma ao Sr. Cido Franco, usando o dinheiro para construir o Cine Atibaia, até hoje aberto, sendo, por décadas, o único cinema da região. É importante registrar que, em detrimento de qualquer interesse financeiro ou político, Juvenal priorizou a cultura e a tradição de sua família de trazer entretenimento e informação para o povo de Atibaia.

Também vale ressaltar que, devido ao acidente da queda da parede ocorrido outrora no Cine República, o Cine Atibaia foi construído com fortes estruturas e alicerces, além dos exigidos no projeto arquitetônico, assinado por Salvador Cândia, renomado arquiteto da época, para garantir a segurança dos espectadores.

Foi inaugurado em 08 de dezembro de 1964, dando continuidade à história da família, envolvida com a sétima arte desde a década de 20 até hoje. Nos cinemas da família, havia atividades culturais variadas, com a presença de artistas de referência na época, shows e eventos, além dos filmes em exibição.

A história dos cinemas de Atibaia - 04

A atividade cinematográfica em Atibaia sempre foi muito presente, nas décadas entre 60 e 80, havia três cinemas em funcionamento, o Itá e o Atibaia, de propriedade da família Alvim e o Paraíso, de propriedade das famílias Zanoni e Correia Lima, todos com sua relevância e importância, mas sobre o Cine Paraíso não nos cabe falar, pois isso é uma prerrogativa das famílias e descendentes, visto que são os reais conhecedores dos fatos que dizem respeito à sua história.

Na década de 80, a tecnologia explodiu, trazendo uma miríade de novas opções, fazendo com que dois dos três cinemas deixassem de funcionar, na sua concepção original, ficando aberto apenas o Cine Atibaia, que na ocasião contou com o apoio da Prefeitura de Atibaia e com a parceria do Centerplex, através da pessoa do Sr. Ely, fazendo que houvesse viabilidade econômica para dar continuidade à atividade.

A história dos cinemas de Atibaia - 05

E entre as décadas de 80 e 2000, o Cine Itá, ou melhor, o prédio, foi alugado para diversos fins, até que, foi desapropriado pelo governo municipal, àquela época sob a gestão de José Roberto Tricoli. Naquele momento, a família ficou surpresa com a notícia e a atitude. Após negociação o prédio foi entregue e ficou fechado (novamente surpreendendo a todos) por muitos anos, sem reforma, manutenção ou serventia para a população. Foi entregue, como Cine Itá Cultural, treze anos depois, no segundo governo de Saulo Pedroso, tendo como testemunha a cidade inteira.

E nos dias atuais, após o polêmico documentário exibido em 23/09/2023, volta à tona essa questão, mas sob um viés político, parcial e que não correspondia à verdade que nós, enquanto família atuante na cidade, conhecíamos.

A história dos cinemas de Atibaia - 07

A imagem acima é auto explicativa, visto que trata-se de um post publicado no grupo “Ruas de Atibaia” do Facebook.

Por essa razão e visando entender as narrativas dos entrevistados, da diretora do documentário e demais envolvidos, conseguimos contato e, após longa conversa com o ex-prefeito Beto Tricoli, as questões ficaram cristalinas e possíveis de serem compreendidas: foi dito no “documentário” que a família “estava aguardando o prédio cair para vender” e que a Prefeitura desapropriou para “salvar” o prédio…… palavras que não correspondem a verdade. Além disso, após a desapropriação é fato que o prédio ficou anos fechado, deteriorando…..então veio o esclarecimento oferecido pelo próprio Beto: o que ocorreu de fato, foi que dois pastores de uma Igreja Evangélica e uma vereadora da época, procuraram o prefeito dizendo que iam comprar o prédio (vale ressaltar que sem o conhecimento da família proprietária). Se isso acontecesse, segundo explicações do ex-prefeito, ficaria complicado administrar, visto a proximidade com a principal Paróquia católica da cidade e que, além disso, o Estado é laico, ficaria difícil misturar assuntos religiosos…… então o caminho encontrado foi a desapropriação do imóvel.

A história dos cinemas de Atibaia - 08

Tudo esclarecido, qualquer outra narrativa é desprovida da verdade além de fantasiosa.

Ainda sobre documentários, não se pode esquecer de um trabalho muito sério e embasado, feito por Gilberto Sant’anna e equipe, que apresenta a história do Cine Itá. Infelizmente esta obra, não está mais disponível para visualização via internet.

Por fim, é preciso registrar e ressaltar que, em anos de pandemia e “vacas magras”, o Cine Atibaia ficou em pé, com o apoio do Sr. Márcio Ely e com a forte determinação da família Alvim que, independentemente de dinheiro ou política, continuou garantindo cultura e entretenimento à cidade e, principalmente, honrando as raízes e valores de sua família, cuja história se mistura com a história dos cinemas de Atibaia.

Assim concluo este despretensioso relato, reafirmando que a família Alvim sempre norteou sua conduta por valores de empreendedorismo, caridade, cultura e ações que visam o desenvolvimento, valorização e amor por Atibaia.

Atibaia, setembro de 2023

José Pires Alvim Neto