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Benedito Almeida Bueno

Capitão Benedito Almeida Bueno

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A 2 de maio de 1892, apresentava-se ao Conselho da Intendência, de nosso município, exibindo o seu título de nomeação para membro do mesmo, um jovem de 22 anos, aproximadamente, a quem é solenemente deferido o compromisso legal, para entrar em exercício desse cargo. Esse moço, o capitão Benedito de Almeida Bueno era uma nova esperança da política republicana nascente de Atibaia, e em que repousava, já a fé dos novos destinos de nossa terra, pelo seu elevado caráter. Ao depois eleito vereador, em 16 de dezembro de 1901, exercendo a vice-presidência de nossa edilidade. Não tardou que, neste posto, sua alma irrequieta e progressista se fizesse logo sentir nos melhoramentos locais. Era, então, presidente da câmara o Major Juvenal Alvim, com quem, veremos, o capitão Almeida Bueno prendeu-se ao mais sincero laço de amizade, que só a morte os separou. E ambos caminhavam pela primeira metade do século vinte, guiados pelo mesmo ideal: o progresso e a grandeza da terra idolatrada. Assistido pela brilhante e culta figura do inolvidável Aprígio de Toledo, realizaram, senão tudo, pelo menos a base de tudo sobre o que repousa hoje a nossa terra. Começaram no grupo escolar. Em sessão de 3 de novembro de 1902, o capitão Almeida Bueno, como era conhecido, apresenta um projeto de lei para a construção do majestoso prédio que, ainda hoje, se vê na praça Guilherme Gonçalves. As dificuldades da época, falta de recursos, e o elevado custo do edifício sonhado, mas realizado, levou-o a apresentar projeto de lei que criou o imposto chamado “fogão”. O nobre fim desta lei hoje podemos avaliar, mas o que por isso sofreram os atibaianos daqueles tempos, não se avalia hoje. Mas tudo passou e o grupo escolar aí está.

Ao depois vem a organização da companhia Fiação e Tecidos “São João”. E lançam manifesto, e o capitão Benedito de Almeida Bueno é seu secretário e constrói sob sua direita administração o prédio respectivo.

Volta ele para a vida pública quando em 1914 é novamente eleito vereador e passa a ocupar cargo de prefeito, a partir de 2 de março desse ano. Um mês depois já apresentava longa lista de serviço: alargamento da travessa 21 de Abril (hoje trecho da rua José Ignacio), colocação de guias na rua que desce do lago do mercado na direção da competente travessa, que apresentava péssimas condições, e elevação da iluminação da rua José Bonifácio. Tudo isto no curto prazo de um mês!!! Ao depois o alargamento das ruas. As atuais ruas, José Pires, José Bim e
José Ignacio, eram estreitas travessas que ligavam as ruas centrais à atual Tomé Franco, cujo trânsito a veículos era impedido por dois horríveis postes plantados na respectiva estrada, para vedar a passagem, Atibaia apresentava o aspecto de um “claustro de enorme grandeza”, como disse dela o Dr. Cunha Mendes. O capitão Almeida Bueno, como prefeito, faz desapropriações, alarga as ruas, dá-lhes nova denominação, apresentando o aspecto que hoje se vê, de ruas amplas e modernas. Foi ainda na sua fecunda administração na prefeitura local, que se construíram os jardins do largo do Rosário, hoje praça Guilherme Gonçalves e no largo Santo Cruzeiro, hoje praça Dr. Miguel Vairo. Tratou ainda do aumento da captação de nossa água, cujo novo serviço foi inaugurado a 7 de setembro de 1916. Em outubro de 1918, é o município de Atibaia assolado por terrível mal. Foi então que o capitão Almeida Bueno desdobrou-se em atividade. Instalou hospitais de emergência, pediu auxílio à população, prestou socorro à pobreza e, coadjuvado por Francisco Rodrigues dos Santos, Aprígio de Toledo, José de Aguiar Peçanha e pelos médicos
dos Santos, Dr. Miguel Vairo e Fernando Jatobá, levou a todos o conforto necessário. Se a sua grande obra não bastasse, só isso o faria  um dos maiores atibaianos de seu tempo. Debelado o mal, apresenta o relatório, que não podemos deixar de transcrever:

Consta da ata da câmara munictpal de 1 de ſevereiro de 1919.
“Senhores Presidentes. Senhores Vereadores. Tendo aparecido nesta cidade, de meiado para fins de outubro do ano passado. casos de gripe espanhola, procurou esta Prefeitura, desde logo, trazer o facto ao conhecimento desta Câmara, tendo eu sido, mais uma vez honrada com a confiança de meus dignos confrades. que me abriram créditos ilimitados imediatamente quanto às medidas a serem adoptadas contra a terrível epidemia e para facilitar, por outro lado, os socorros ás classes desfavorecidas de recursos. Fez esta Prefeitura quanto esteve ao seu alcance, afim
de ser a epidemia, em tempo combatida e para que o mal não se alastrasse com o caráter violento, que caracteriza a moléstia; o que entretanto, não pode ser conseguido, dada a natureza especialíssima da peste, cujo poder de divulgação tem, em toda a parte resistido ás mais rigorosas medidas de profilaxia. Nestas condições, os casos foram-se multiplicando e o flagelo se estendendo por toda a cidade, havendo casas, onde os habitantes caíram de cama simultaneamente: o que sobremaneira dificultava o trabalho de tratamento que a moléstia exige. Por esta Prefeitura foram logo distribuídos medicamentos e os recursos pecuniários indispensáveis a seu juízo, as famílias onde havia casos de gripados. Mas, percebeu desde logo, esta Prefeitura que, por si sós, esta providencia não era suficiente e promoveu a instalação de uma enfermaria, onde eram recolhidos os que em casa não podiam ser tratados convenientemente. Tomada de aluguel para esse fim, a casa da rua 13 de Maio, desta cidade, pertencente a dona Maria Joana Pires Barreto, foi preciso, bem cedo, tomar a casa anexa, de propriedade da mesma senhora, tal a
afluência de doentes que começou a haver. Ainda assim, foi preciso recorrer á administração da Santa Casa
de Misericórdia. As duas enfermarias, naquele estabelecimento de caridade, achavam-se com poucos doentes. Separados estes e obtida a competente alta, dentro de poucos dias, o serviço ali, de socorros aos gripados pode ser feito com a indispensável regularidade. O fornecimento de socorros domiciliares continuou, entretanto por parte desta Prefeitura, até que a iniciativa particular veio em seu auxilio, organizando-se uma comissão composta
do Revmo. Padre Francisco Rodrigues dos Santos, digno vigário desta paroquia, do Capitão José de Aguiar Peçanha e do advogado Capitão Aprígio de Toledo. Desta comissão participava também o Prefeito Municipal. Tratou-se logo de obter donativos particulares, montando-se um posto, destinado á distribuição de mantimentos aos que requisita-los, suspende-se desta sorte, o fornecimento de dinheiro para a aquisição direta de viveres, por parte das próprias acorridas. Esta providencia veio minorar muitíssimo o trabalho desta Prefeitura e ônus desta Câmara. Esta Prefeitura teve ainda ao seu lado, dispensando aos doentes hospitalizados todo o socorro medico, de que careciam, os excelentíssimos Senhores doutores Attico Seabra, da comissão Rockefeller desta cidade, e Miguel Vairo, Antonio J. Ferreira Jatobá. Nas visitas domiciliares aos doentes pobres, foram ainda esses dignos facultativos incansáveis prontificando-se a atender às requisições desta Prefeitura. Afim de que, entretanto, a Municipalidade pudesse, ao menos muito modestamente, mostrar-lhe a sua boa vontade, distribuiu-lhes esta Prefeitura algumas gratificações, cujo total mandou em 640$000. Nos casos comuns, os medicamentos usuais, eram diretamente fornecidos por esta Prefeitura. Nos casos complicados, as receitas medicas eram distribuídas pelas farmácias locais, afim de serem
nas mesmas aviadas. Com o aviamento de receitas, nas farmácias, dispendeu esta quantia 2:651$720. A Companhia de Fiação e Tecidos “Fabrica São João” sabemos que foi solicita em acudir aos seus empregados fornecendo-lhes recursos, de que careciam e contribuindo, generosamente com os particulares, para os socorros gerais á população do Município. Mas, não nesta cidade, como nos bairros e próprio distrito de Jarinu, a epidemia grassou intensamente, com quanto, na genialidade dos casos, não apresentasse caráter de gravidade. E tanto à população urbana, como à rural, foi necessário acudir com socorros médicos e mesmo com fornecimento de gêneros alimentícios. Releva, por fim, mencionar a boa vontade da Cruz Vermelha desta cidade que, lançando mão de um pequeno deposito existente em caixa, distribuiu-o, em donativos, aos doentes pobres. Com as enfermarias instaladas segundo acima se declarou, dispendeu a Prefeitura 1.275$400. Com medicamentos usuais distribuídos ao povo 364$500, não entrando neste cálculo os que foram requisitados à Secretaria do Interior e por esta prontamente fornecidos a esta municipalidade. Com socorros fornecidos à população de Jarinu foi expendida a quantia de 605$200. O total das despesas pagas por esta Prefeitura foi de 5.536$820. Não fossem os auxílios trazidos pelos particulares e devido ao extremoso espirito de caridade da população deste Município, as despesas desta Câmara seriam enormes. Os benefícios dispensados ao povo, os socorros que lhes foram proporcionados foram tais, que felizmente, ninguém, durante a quadra epidêmica quer nas povoações, quer nos bairros, pereceu a míngoa de recursos, ou ao desamparo. Por este pequeno relatório, que tenho a honra de submeter à consideração desta Câmara, poderão os senhores vereadores ajuizar do movimento da epidemia neste Município, e de forma como procurei na medida de minhas forças, me desempenhar da incumbência que, por esta Câmara, me foi cometida, e das despesas que foram efetuadas por esta Prefeitura, no sentido de se levar a efeito o serviço de combate ao horrivel flagelo epidêmico.”
Atibaia, 31 de janeiro de 1919.
Benedito de Almeida Buепо

Eis aí os ligeiros traços biográficos desse atibaiano que, membro do Conselho da Intendência, vereador de 1902 a 1904, prefeito de 1914 a 1919, presidente da câmara, juiz de paz, delegado de polícia, membro do diretório do Partido Republicano, foi, na sua vida particular ou pública um atibaiano a quem muito deve o progresso de sua terra. Faleceu a 16 de junho de 1926 na cidade de Santos, para onde tinha seguido gravemente enfermo, tendo sido sepultado no cemitério municipal desta cidade. Tributou-lhe sua terra justas homenagens entre as quais dando a rua Santo Cruzeiro a denominação de Benedito de Almeida Bueno.

Fonte: História de Atibaia (João Batista Conti)
Foto tratada por inteligência artificial