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José Bim

(*1856 +1913)

José Francisco de Campos Bueno

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A 20 de novembro de 1856, nascia em Atibaia, e de uma família cujo trono se prendia, em linha muito próxima ao fundador da cidade, José Francisco de Campos Bueno, que, na intimidade e para os seus conterrâneos, era, simplesmente, o José Bim.

Coração magnânimo, alma acostumada na prática do bem,simples, a tudo e a todos atendia com a solicitude que lhe era peculiar, e que, ainda, não foi sobrepujada por nenhum político ou homem público que o tenha sucedido.

Político militante já desde império, ligado ao Partido Liberal, vinha portanto, de uma escola democrática que foi modelo para as futuras gerações, deixando na sua rápida vida política os mais indeléveis traços de um cidadão benemérito a quem muito deve a sua terra natal.

Inteligente e culto, estudou humanidades com o professor José Pereira da Mota, aprimorando, sempre, os seus conhecimentos, para aplicá-los no serviço de sua terra estremecida.

Dos atibaianos que vimos escrevendo, este é o primeiro que tivemos a felicidade de conhecer e que nosso cérebro, já cansado, ainda retém os seus belos traços, e que o ingrato tempo não conseguiu obliterar.

Sempre que recordamos dele, acode à nossa memória uma manifestação, já nos últimos tempos de sua vida, que lhe fez a população local.

Lembramo-nos bem que, ao agradecer ele esta entusiástica e merecida prova de amizade de seus conterrâneos o pranto sufocou lhe as palavras, o que nos pôs, a todos os presentes, velhos, moços ou crianças, com o coração transpassado de dor, por ver a sinceridade daquela bela alma.

A sua vida de homem público, foi toda dedicada ao progresso local. Eleito vereador em 1887 e reeleito posteriormente, exerceu a presidência da nossa câmara, em diversas legislaturas. Foi ainda intendente, secretário do conselho da intendência, etc. e, em todos esses cargos, procurando sempre logradouros públicos locais.

Logo após a sua primeira eleição, em setembro de 1888, propõe o nivelamento e abaulamento da rua José Lucas que, até então, era quase um caminho, cercado de casas. O seu projeto, imediatamente aprovado e posto em execução, dá a certos moradores daquela via pública, motivos para ação em juízo, por se julgarem prejudicados com o nível do novo leito da rua. Vale-se a câmara de uma consulta ao presidente da província o qual emprestou inteiro apoio à nossa edilidade, e o plano José Bim não sofreu solução de continuidade. Não param só nisso as obras.
Concluindo o nivelamento e abaulamento, propõe ele que a mesma fosse apedregulhada, ficando nossa principal via pública com um belíssimo aspecto para aquela época. Sua preocupação com o embelezamento da cidade era constante.

Em julho de 1889, reclama ele a limpeza das ruas centrais, pedindo que as mesmas fossem capinadas, dada a proximidade das festas do padroeiro e clama contra o abandono dos campos municipais, cujas queimadas traziam sérios prejuízos ao patrimônio da prefeitura. No mesmo ano, ao ser proclamada república, convoca ele uma sessão extraordinária para o dia 21 de novembro, na qual expõe a nova ordem das coisas e apresenta a seguinte proclamação, no que é por todos acompanhado:

“Concidadãos! Estando instalado no Estado de São Paulo um Governo Provisório, é indispensável que nesta emergência todos os Brasileiros mantenham a maior ordem e paz, evitando-se anarquia com o seu cortejo de males inevitáveis. Neste intuito os abaixo assinados, aconselham a seus Concidadãos deste Município que mantenham a maior ordem e paz, que obedeçam as autoridades existentes e as leis que independem do regime politico, e mantenham união com o Governo de fato constituído para conjurar a anarquia. Viva a Republica Federativa dos Estados Unidos do Brasil. Viva a Nação Brasileira. Viva o Governo Provisório do Estado de São Paulo.

Paço da Câmara Municipal de Atibaia, 21 de Novembro de 1889
José Francisco de Campos Bueno, Presidente
Jacinto Pereira Peçanha – Manoel Martins de Oliveira
Joaquim Antonio do Amaral Leite – José Jorge Moura
Matheus de Campos Bueno do Prado

Ao depois vem o conselho da intendência e a série de desgostos que durou pouco. A 10 de abril de 1892, e por força de uma lei, convoca a última câmara eleita para “designar as mesas eleitorais”.

Vêm as primeiras eleições após a proclamação da república e ele elege-se novamente vereador a nossa câmara. E continua no seu afă pelo progresso de Atibaia.

Em 1 de fevereiro de 1893, propõe que se “amplie os terrenos que circundam o mercado; propõe, ainda, que se desaproprie a casa pertencente a Francisco Rodrigues Soares, sita na esquina da rua do Comércio e travessa que dá entrada para esta cidade, visto que é muito estreita, não podendo por ela transitarem ‘quaisquer veículos sem perigo eminente”; propõe mais que a câmara forneça móveis necessários pelo fundo escolar, para as escolas públicas desta cidade dos sexos feminino e masculino. É projeto seu a arborização que existia na praça Izabel, hoje Aprígio de Toledo, e que foi posteriormente cortada. Em tudo se preocupara o incansável José Bim: ruas, estradas, saúde pública, iluminação, finanças e, especialmente, com a pobreza desamparada.

No terreno da caridade seu grande coração foi ao infinito. Com a saúde pública, dissemos, e neste terreno teve bem duro encargo em março de 1893, quando levou ao conhecimento da câmara:
“que apareceu um caso de varíola no bairro do Mato Dentro deste Município em pessoa miserável, que portanto necessita socorros”.

A varíola era coisa pavorosa nessa época. Dizimava populações, e apavorava os habitantes das cidades. E sabemos o que fez a câmara? Designou José Bim para:

“por conta dela, fazer tratar do mesmo e de algum outro que aparecesse”.

E ele desempenhou sua missão galhardamente.

Com estradas, dissemos, vemo-lo frequentemente preocupar-se com esse problema. A 15 de maio de 1894, pede à câmara para oficiar ao excelentíssimo senhor secretário da viação para mandar consertar a estrada da estação de Atibaia (hoje Caetetuba). No mesmo ano, em julho, indica:

“que se oficie ao Governo fazendo ver a necessidade de consertar-se a estrada que desta cidade vai  a Nazaré”.

Em 2 de janeiro de 1895, apresenta um projeto de lei pelo qual é declarada que de utilidade pública, ou antes, de uso municipal, a estrada que liga esta cidade a Bragança, até as divisas.

E seria logo enumerar a série quase infinita dessas propostas.

Com iluminação, dissemos também. A lei nº 1, de 28 de novembro de 1892, que foi o nosso primeiro Código de Posturas republicano, estabelecia que:

“a iluminação das povoações do Município será feita pelo sistema que a Câmara julgar mais conveniente”,

e mais

“ser obrigatória para os proprietários e inquilinos desta cidade a iluminação da frente de suas casas nas noites de 23 de junho e 24 de dezembro de cada ano e mais quando a Câmara determinar”.

Este código foi por ele promulgado, como intendente. Logo, no ano seguinte, propunha a José Bim à câmara para que:

“a iluminação de que trata o artigo 15 do Código de Posturas ser feito com duas lanternas em cada porta ou janela”.

Com duas lanternas em cada porta ou janela!!!

Que maravilha Atibaia daqueles tempos! Que felizes eram os nossos conterrâneos do passado! Tudo isto me traz à memória aquele hino que Alexandre Hercula cantou ao sino de sua terra, repique por estes sítios, é ainda patriótico e tenaz: ainda não o perverteu a peste da civilização. Aqui, em nossa terra, se dá o mesmo, o sino é a única coisa que a peste da civilização não conseguiu deitar sua mão iconoclasta, para destruir.

Mas… vamos adiante. Em 1894, vemo-lo bater-se pelas fianças municipais, recuperando-se com a situação em face da construção da rede de água, cujos projetos estavam em estudos.

Entretanto, uma de suas mais belas indicações é a que demonstra claramente a sua nobre alma. É apresentada em sessão de 1 de outubro 1894:

“Tendo sido informado que nas escolas públicas deste Município há meninos que por seu estado de pobreza não podem continuar seus estudos devido a falta de livros papeis etecetera e sendo isso verdadeiramente lastimável, e tendo esta Câmara em seu orçamento decretado uma verba para instrução publica, sou de parecer que esta Câmara prestará um relevante serviço a esses coitadinhos, ordenando que por conta da referida verba se disponha até a quantia de vinte mil réis mensais com a compra dos objetos acima declarados e assim indico que se faça.”

E foi feito… Como eram felizes até os “coitadinhos” daquele tempo. Não faltava quem levantasse sua voz e que voz! – em seu auxilio. E a câmara local tinha nesse ano um orçamento de Cr.$ 17.705,00.

Em 15 de fevereiro de 1895, depois de se ter ardorosamente batido por todos os problemas municipais, retirou-se José Francisco de Campos Bueno de nossa edilidade, declarando que “tendo aceito o lugar de tabelião de notas” tornava-se incompatibilizado para as funções de vereador.

Continuou, no entanto, prestando serviço à sua terra e à sua gente.

Com a morte de seu pai, José Alvim de Campos Bueno, assumiu ele a chefia do Partido Republicano local.

Seu nome, entretanto, ligado a todos os melhoramentos que se fizeram ao depois de sua retirada da câmara: grupo escolar, luz elétrica, Santa Casa e outros, o seu prestígio e colaboração se tornaram indispensáveis.

Foi também presidente da Conferência de São Vicente de Paulo, onde prestou relevantes serviços à pobreza local.

A 24 de julho de 1913, apenas com 56 anos de idade, a morte rouba dos atibaianos quem muito, ainda, podia fazer para a nossa terra. Sua morte, profundamente sentida, encheu de consternação toda a zona bragantina.

Em um velho caderno há uma nota assim:

Rua José Bim.
Era uma estreita travessa que ligava a rua do Comércio (hoje José Alvim) à da Liberdade (hoje Tomé Franco). A 3 de novembro de 1916 a câmara desapropriou prédios e terrenos e a alargou. Teve a denominação atual pela lei nº 184 de 3 de janeiro de 1916, em homenagem à simpática figura de José Francisco de Campos
Bueno, o Zé Bim, um político de quem os seus pobres jamais esquecerão pela grandeza de seu trato e simplicidade de seu coração, sempre aberto a todos os que dele precisavam.

E, hoje, podemos acrescentar com o poeta:

“E assim tal qual a flor contém o dom de concentrar no aroma a suavidade, da mesma forma tu nasceste bom.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: História de Atibaia

Foto tratada por inteligência artificial