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Aprigio de Toledo

(*1868 +1919)

 

Se houve alguém cuja vida foi toda dedicada à sua terra, esse alguém, incontestavelmente, foi Aprigio de Toledo. Não оcиpando cargo público, foi, entretanto, como advogado o orientador seguro e certo dos destinos de Atibaia, desde o início de sua carreira até a sua morte.

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Não houve melhoramento público, de 1890 a 1919, em que Aprigio de Toledo não tivesse sido consultado. A sua orientação norteou, durante muitos anos, os destinos atibaienses.

Republicano, iniciou sua política na campanha para o novo regime, fazendo propaganda, manifestações, a tudo servindo na causa que havia abraçado. Quando da instalação do Conselho da Intendência, o seu talento foi diversas vezes requerido, ocupando o cargo de secretário interino dessa corporação, a titulo gracioso. Faz depois, tenaz campanha, pela imprensa para a instalação do grupo escolar, fábrica de tecidos, luz elétrica, transporte, sendo até concessionário com Jorge de Barros de uma empresa deste gênero. Propugnou pela construção da rede de esgoto, tendo sobre este melhoramento, escrito uma série de interessantíssimos artigos neste jornal, que muito influi na administração local. Trabalhou ainda pela Santa Casa, retoma do serviço de água, tendo encabeçado uma representação popular à nossa edilidade, em 2 de março de 1916, para que se fizesse o alargamento de travessas que hoje constituem as ruas José Ignacio, José Bim e José Pires, além de inúmeros outros problemas municipais.

Em seus trabalhos pela imprensa, destaca-se, a crítica feita, a pedido do autor Adolfo Bertoloti, à peça teatral denominada Margarida, do que resultou renhida polêmica com o doutor Vicente Guilherme, surgindo da parte destes doze belíssimos artigos na cidade de Bragança, respondidos por oito de Aprígio de Toledo, no Atibaiense.

Lamentável, profundamente lamentável, ser absolutamente desconhecida, pelos meus conterrâneos de hoje, essa
série de artigos, cuja a vitória coube a nós, que tivemos às luzes grandes talentos desta região, na mais cavalheiresca das atitudes, numa discussão literária. Escreveu ainda Aprigio de Toledo outra série de colaborações intituladas “Assuntos Municipais”, além de milhares de outros trabalhos esparsos pela imprensa local e da cidade de Bragança.

Orador requintado, era escolhido para representar sua terra onde quer que se precisasse da palavra de quem sabia interpretar com fidelidade o seu sentimento e o melhorando alheio. Das suas orações destacamos a feita em 26
de abril de 1903, perante o retrato de José Alvim de Campos Bueno, (o Nhô Bim) em sessão extraordinária na câmara, bem como o discurso proferido na ocasião que se inaugurou a luz elétrica, em 25 de dezembro de 1907.

Nesta maravilhosa pеça oratória, ele deu expansão à sua alma de atibaiano, tecendo um hino à terra que lhe serviu de berço. Impossível, humanamente impossível a sua transcrição aqui.

Outro discurso seu conhecemo-lo através da tradição oral.

Conta se que, quando o arcebispo visitou Atibaia, havia aparecido aqui um jovem talentoso professor, que se tornou rodeado por todos. Para este convergiam as atenções, tendo ficado relegado a verdadeiro olvido a prata da casa.

Chega o arcebispo. Festas, homenagens, o orador novo, o velho esquecido Aprígio sente-se ferido no seu amor próprio. Não só ele, o Juvêncio Fonseca, cuja banda de música até ali tinha sido pau para toda obra, agora esquecida por haver nova corporação. E, ambos, promovem uma grande manifestação ao arcebispo.

Aprigio tinha o talento oratório, Juvêncio o da música, os operários completariam a festa. Ei-los diante do arcebispo e o Aprigio a clamar que a manifestação não era dos ricos e sim de operários, que não vinham a Sua Excelência com o fulgor das classes mais felizes e nem com o talento que o ouro dá e muito menos com a pompa e fantasia das vestes, mas tão somente pela palavra de seu pobre orador, colhido por acaso entre a massa menos favorecida, mas que podia trazer a Sua Excelência a mais humilde das manifestações, mas não a menos sincera, porque os que ali estavam eram também filhos de Deus como os outros, desse Deus que nasceu numa estrebaria e “não pórtico airoso е leve que os pintores cristãos, envergonhados com o berço sujo e miserável em que repousou o seu Deus, levantaram ao filho de Davi. Ah! Era de ver o entusiasmo do saudoso D. Duarte Leopoldo e Silva ao responder a essa manifestação. Não, disse ele, não estava ali um simples orador colhido por acaso, mas um talento, um desses talentos que só as classes humildes podem dar e de que está cheia a história de exemplos. E contou então o arcebispo a sua vida de origem humilde para se igualar aos operários.

Aí está o que me contaram e eu procurei ser fiel relatando. Advogado, dedicou o Aprigio a sua profissão à causa dos
pobres e desprotegidos, que viam nele a garantia de seus direitos, o fiel defensor de seus interesses em cujo talento repousava para os humildes, fracos e oprimidos, a garantia de sua defesa. Célebres e bem conhecidas são as suas rixas com missionários delegados de polícia prepotente. Quando da epidemia da gripe, ao lado de Benedito de Almeida Bueno e outros, levou à pobreza o seu amparo e conforto. Dotado de vasta cultura, conhecendo vários idiomas, notadamente o inglês, faleceu Aprigio de Toledo a 16 de agosto de 1919.

A Praça Aprígio de Toledo, antigo Largo da Misericórdia, chamou-se Praça Izabel até a Proclamação da República em 1888. Depois sua denominação passou para 15 de Novembro. Quando da morte desse ilustre atibaiano, a Câmara fez homenagem atribuindo seu nome à popularmente chamada como “Praça do Mercado”.

Fonte: História de Atibaia de João Batista Conti
Foto tratada por inteligência artificial