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BENEDITO LEITE

“Sou do tamanho daquilo que vejo, não do tamanho da minha altura”
Carlos Drummond de Andrade

Benedito Leite morreu no dia 26 de julho de 1982. Era chamado pelas crianças de “O menino do Ipê”. Isto porque em 26/09/1981 foi homenageado pela diretora, Profª Irma Vasques, professores e alunos, por ter sido o menino que plantara (em 21 de setembro de 1919) o maravilhoso Ipê que todos os anos, entre agosto e setembro, enfeitava o pátio do G.E. “José Alvim” com suas flores douradas.

Foto  de  1981 – tirada  ao lado do  Ipê  por  ele  plantado  quando  criança.

Esta homenagem o deixou muito emocionado e orgulhoso. Dizia sempre às suas filhas: “Vosso pai está no auge…”

A história de sua vida começa pelo final: faleceu quase um ano depois com essa lembrança feliz.

Era excêntrico, já tinha o túmulo pronto com sua foto e de sua primeira esposa Amélia Peçanha Leite, com quem desejava ser enterrado.

Foi um artista, desenhista,  projetista e pintor de paredes.

Quadro  pintado  por  Benedito   Leite  em  1937  para o  Mastro  da  Igreja  Nossa  Senhora  do  Rosário

Quadro  pintado  por  Benedito Leite  para o  Mastro da tradicional Festa de São Sebastião

Era ele quem fazia  os magníficos andores das tradicionais festas religiosas. Em seus trabalhos e, especialmente nesses, se esmerava, procurando retratar os dons do Espírito Santo da melhor forma. possível. Em um deles fez uma fonte luminosa, em outro um cálice com a hóstia e os reflexos luminosos com espelhos, cuidadosamente recortados. Havia iluminação, com pequenas luzes alimentadas por baterias.

Sua casa durante meses antes da festa virava um ateliê de artista.

Era caprichoso em todos os detalhes: fez os andores de São João Batista; num fez um Ipê, o tronco ele esculpiu numa madeira (pita), cobriu com o gesso e pintou. As flores foram encomendadas a uma florista competente. Fez carneirinhos de gesso. Ficou perfeito: São João Batista sob o Ipê florido. E em outro, usou as famosas flores de São João.

Foi também pintor de parede, naquele tempo, tudo era difícil , as tintas tinham que ser preparadas uma a uma, as estampas de flores, arabescos também, como era a moda.

Mais tarde tornou-se, o que seria hoje arquiteto projetista. Fazia projetos de casas: desenhava-os em papel vegetal, depois tirava as cópias, de forma artesanal em sua casa.

Fez centenas de projetos de casas, grandes e pequenas, dentre elas a de André Carneiro, de Dona Alice Abbud, em frente ao prédio da Prefeitura.

Autodidata, aprendeu esse ofício lendo e consultando livros de arquitetos renomados.

Politicamente consciente, dizia-se comunista, profundamente admirador de Luis Carlos Prestes, falava muito dos feitos da Coluna Prestes. Era “ateu”, mas devoto do Espírito Santo.

Em 1964, muitos tiveram que fugir para não serem presos. Não foi o seu caso pois todos na cidade sabiam que era inofensivo. Assim, apesar de suas posições políticas, não foi preso nem perseguido.

Benedito  Leite (ao centro,  de  terno  escuro),  de  terno  claro (a esquerda)  Tenente  Montezuma, o  rapaz  encostado no  carro  é o seu  sobrinho Antonio Janussi  em  janeiro  de  1964. 

Torcia pelo São João Futebol Clube e ajudou na construção do campo, Irritou-se quando ele foi transformado em São João Tênis Clube.

Foi ecologista, quando essa palavra nem era conhecida, achava que os pássaros deviam viver livres, repudiava a caça e já se preocupava com a derrubada das matas de Atibaia.

Era o oposto de seu cunhado Sebastião Rocha, que era caçador e tinha muitas gaiolas com pássaros presos. Mas, sempre foram amigos.

Nasceu em 02/04/1905, faria então 100 anos em 2005. Era o penúltimo filho de Alfredo Leite e Benedita de Campos Leite.

Sua irmã mais velha, Benedita Leite (Sinhá), mãe exemplar de tantos Janussi….

O pai dele, Alfredo Leite foi chefe de estação, professor e primeiro mestre do Francisco da Silveira Bueno, em Campo Largo (hoje Jarinu).

Seu pai também plantou aqueles eucaliptos que havia na Avenida da Saudade.

O corte dos eucaliptos por serem inadequados para a rua provocou uma grande tristeza e revolta em Benedito Leite.

Foi casado com Amélia Peçanha Leite, grande amor de sua vida (filha de Nho Quim  e Carmelita Peçanha). Os pais dela eram contra este casamento, que foi feito depois de muitas desavenças.

Mas o casamento durou cerca de três anos, ela morreu em 1936. Não tiverem filhos.

Em 1938 casou-se com Isabel Peçanha Leite, prima de sua primeira esposa. Esse casamento  foi pensado e “arquitetado” por sua irmã e por seu cunhado (Mariquita e Sebastião Rocha).

Isabel era  órfã, tendo sido criada no Colégio Sagrada Família, em São Paulo.

Foi uma fiel e dedicada companheira. Secretaria eficiente, cuidava da parte da burocracia de seus projetos.

Estudou no G.E. José Alvim, foi aluno do professor Gabriel Silva, de quem era profundo admirador, por quem tinha grande gratidão, considerando-o como um pai.

Leitor de jornais, estava sempre atualizado com tudo o que acontecia no mundo.

Gostava de poesias, de textos como “O Sino de Ouro” de Júlia Lopes de Almeida, que sabia de cor. Também citava Rui Barbosa e Gonçalves Dias.

Estrofe da poesia preferida de Benedito Leite, feita em papel vegetal para cópia heliografia (artesanal) com ajuda do sol..

Era ativo nas eleições, tinha opiniões próprias.

Admirava a administração de Walter Engracia de Oliveira, que considerou um grande prefeito. Apoiou a eleição de Edmundo Zanoni, e Gilberto  Sant’Anna , infelizmente não  viveu  para  ver sua  vitória.

Aos 15 anos começou a trabalhar na Casa Recaredo como vendedor, conviveu com a família Carneiro e falava deles com carinho, como se fizesse parte dela.

Conviveu com  a elite com desenvoltura, mesmo sendo de origem humilde.

Fez projetos de tantas casas, existentes ainda, mas sua maior frustração  foi não ter  conseguido fazer a sua própria casa.

Mas deixou um pouco de  sua vida, em suas obras nas esquinas da cidade. E no coração, mente e na saudade de suas duas filhas do segundo casamento:  Aládia  Leite  Conishi  professora  aposentada  da  rede  estadual e  Idaiti Leite, professora na rede municipal de Atibaia , reconhecida pela sua competência e dedicação, que seria, com certeza, motivo de orgulho e emoção, por ver seu nome através destas filhas, grandes mestras, perpetuado com honra e louvor.

Aládia  Leite  Conishi

Idaiti Leite

Idaiti e Aládia (abril / 2005)  

Idaiti e seus alunos

Márcia, filha de Aládia e neta de Benedito.

Lídia Maria e Regina Maria, filhas de Aládia e, ao centro, Beatriz (bisneta de Benedito, filha de Regina Maria)

Aládia, suas 3 filhas e seu neto (Gabriel, filho de Regina Maria).