
O problema da água encanada em Atibaia, foi, na última década do século de XIX (1890), a maior luta de seus dirigentes. As constantes preocupações com a conservação das fontes situadas nos arredores da cidade e cujas bicas abasteciam a população, precisavam desaparecer. O sistema de transporte em latas, ou pipas, já não se adaptava ao nosso progresso, E este pedia métodos modernos e por eles bateu-se o Conselho da Intendência, segundo o primeiro jornal local “O Itapetinga”. A campanha, em 1890, chegou ao seu auge, mas a direção municipal mostrava-se tímida em sua realização, o que deu origem a um dos mais brilantes colaboradores daquele excelente semanário atibaiense a escrever:
“Mas o que ninguém pode me impedir de dizer é que nestas alternativas de alento e desalento, que eu ando a observar de longe, a respeito do projetado cano de água, iniciativa atibaiense, que já teve o seu bom tempo, vai me parecendo um pobre soldado, ferido em pleno peito, estrebuchando no solo, e prestes a morrer…
Não me peça nada por essa imagem que acabo de narras, vai de graça. Agora se em troco da mesma, se quiserem me dar o chafariz, eu prometo fazer outra mais bonita, representando a cidade de Atibaia, ressurgindo das próprias cinzas, como a Fênix da fábula, tendo numa das mãos a flamula do progresso e noutra uma varinha maravilhosa com que toca um rochedo e faz saltar deste uma torrente de água cristalina e pura…”
Mas os homens daqueles tempos eram outros, bem outros. O desalento transforma-se em alento ainda maior, mais forte, mais vigoroso e a questão seria resolvida. O amor à sua terra era, para eles maior do que os interesses pessoais.
“A vida para nos_ dizia Aprígio de Toledo _ está no progredimento desta terra, no embelezamento desta cidade, no nosso engrandecimento. Aqui prendeu-nos o destino. Aqui, sobre este solo vincularam-nos os interesses do nosso próprio viver. Longe destas montanhas, afastados deste céu, distante desta paisagem, a vida se escurecerá para os nossos olhos.”
Bela lição aos seus, a nós e às gerações futuras. E põe-se, então, a câmara a estudar o momentoso problema
da água canalizada. E chama técnicos, e faz levantamentos e contrata o serviço. A fonte inesgotável ficava nas bandas do Itapetinga. Lá haviam os entendidos localizado o manancial. Mas quanto custaria este à edilidade?
É então que resolve a câmara consultar o seu proprietário, o coronel Tomé da Silveira Franco. Era este atibaiano, um político militante local, que havia exercido cargos públicos eletivos, o primeiro deles desde 7 de outubro de 1872.
Abnegado, afeito ao progresso de sua terra natal, por cujo engrandecimento vinha sempre trabalhando, não iria por certo criar agora um entrave ao seu maior problema. Foi, entretanto, geral a surpresa, quando já lido na câmara local um seu oficio “declarando que cedia sem indenização alguma o manancial de água para abastecimento
desta cidade”. Sem indenização alguma? O gesto fidalgo, foi recebido por todos com grande entusiasmo. Sim, tinha razão o Aprígio (de Toledo)
“a vida para nós está no progredimento desta terra”? Nada. Que valia monetariamente uma fonte de água, para quem amava sua terra? O vê-la dotada de um melhoramento, ver os seus conterrâneos realizar seu sonho, valia-lhe muito mais que algumas dezenas de contos de réis. Mas não é só. Fez-se, então, o serviço de água canalizada. Sua inauguração solene deu-se no dia 17 de novembro de 1895. Interessante é notar-se que na ata para o fim de inaugurar o melhoramento introduzido no município com o abastecimento de água canalizada e entrega da mesma à população desta cidade”,
E foi Tomé Franco o penúltimo a assiná-la. Sim, ele teria que ser dos últimos, para ser o primeiro.
Não lhe interessava figurar na dianteira de uma lista, com o único fim de aparecer. Já havia prestado o maior beneficio à sua terra e nada mais importava.
A câmara local, entretanto, não quis deixar de reconhecer esse grande feito e foi por isso que o vereador Egidio Silveira indicou em sessão de 5 de outubro:
“que a Câmara mande dar uma penna dagua, gratuitamente dentro da casa do Sr. Major Tomé da Silveira Franco em o logar que o mesmo indicar”.
E ao ser tomado conhecimento desta indicação, aprovou-a a
câmara unanimemente da seguinte forma:
“A Câmara em ter conhecimento pelos serviços prestados pelo Major Tomé da Silveira Franco cedendo gratuitamente a agua de sua propriedade para abastecer a cidade e grata por essa razão resolve ceder-lhe gratuitamente uma penna dagua, para seu prédio á rua José Lucas desta cidade, isto é independentemente de
pagamento dos centos e trinta mil réis; ficando mais o dito prédio isento do pagamento de dois mil réis mensais decretado por esta Câmara.”
Pode assim Tomé Franco ver a sua Atibaia dotada de água canalizada, sonho dourado de todos, e para cujo fim ele havia contribuído da maneira mais eficiente que um filho podia fazer a sua terra. Daí em diante continuou ele no coração dos atibaianos. A 7 de novembro de 1908 falecia este abnegado atibaiano, que tantos e tão bons serviços prestou a sua terra natal. As homenagens que lhe prestou a população foi um público reconhecimento aos
seus relevantes serviços.
A câmara local, em sua primeira sessão após o seu falecimento e por indicação do Major Juvenal Alvim,
dá à rua da Liberdade a denominação de Tomé Franco na seguinte indicação:
“Tendo falecido a 7 do mês de Novembro p. findo. o Cel. Tomé da Silveira Franco que, era um dos filhos desta terra a quem o municipio muito deve pela cooperação que esse nosso conterrâneo sempre trouxe ao desenvolvimento do progresso local. Ainda por ocasião de ser resolvido o empreendimento do abastecimento d’agua potável a esta cidade o Coronel Franco cedeu gratuitamente, os mananciais situados na terras de sua propriedade agrícola e com a melhor boa vontade o fez. O Coronel Tomé Franco, era ainda um cavalheiro que muito se distinguiu pelo seu alevantamento de carater e pela incontestável prova de amor a esta terra. Proponho, portanto, que sejam transcriptos na ata
as expressões que ora tenho proferido, e indico que, em merecida homenagem á memoria do extincto, seja a actual rua da Liberdade denominada d’ora avante a “Rua Tomé Franco”, providenciando o Dr. Prefeito, sobre a substituição das respectivas placas.”
Portanto, todo atibaiano, ao passar pela rua que tem o nome deste conterrâneo, não mais indague a causa de chamar Tomé Franco. Diga que ele foi, no passado, o que precisamos ser no presente !!!
Fonte: História de Atibaia (João Batista Conti)